quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O barco

Foto: Fabiano Trichez


Uma melodia baixa
Soa nos meus ouvidos
Talvez o mar
ou o canto distante do pescador
.
Vencendo as ondas,
Suspendendo seu barco
Enquanto o céu abraça o mar
ou o mar abraça o céu
.
Em cada braçada de rede
Em cada pedaço de mar
Espalha um pouco da sua coragem
e deixa que o sol leve um pouco dele
.
Aliás, leve
Leve como uma brisa que passou
E deixou soando meu ouvido
O nome do barco, talvez, mais um eco
de esperança neste azul imenso.
Mayara Floss

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Entre as fórmulas e os versos


Bom, um pouco mais sobre o livro e o blog. Saiu hoje uma reportagem no jornal "Diário de Santa Maria". É estranho sermos foco de uma reportagem, ali nossos semblantes e a impressão que deixamos é o que revela-se impresso no jornal. Uma nova experiência. Saíram dois poemas do livro que tomarei a liberdade de colocar aqui também (um deles saiu incompleto no jornal - Torneira).
Torneira
O que fazer (pin)
Com uma torneira pingando (ando)
À (pin) noite (ando)
Pre (pin) guiça de le(ando)vantar
Pin - ando
Cober(pin)tor quen(ando)te
Pin-g-ando
O(pin) tem(ando)po
Des(pin)lizando (ando) pe(pin)lo
Ralo
Pin-g-ando
.
'
.
Diário
Cafeína
Corre, percorre
Um espasmo de adrenalina
Sobe-desce de escada
Silêncio
Exceto pelo pulso
Acelerado
Fuga, fugaz
Prisioneiros
De um soluço reprimido
De uma rotina no máximo
Que nos mantém no mínimo
Mayara Floss

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Embalando

Foto: Fabiano Trichez

Para a dançarina Maiara Lopes
Embalando-me nos seus braços
Os abraços ficam pequenos
A dança corre pela ponta dos pés
E vai até a ponta dos dedos

Nesse embalo de dança
Nesse ensaio, nesse enlaço que chamamos vida
Talvez um pé de sapatilha
Ficou perdido em alguma esquina


Mas os olhos felizes da bailarina
Deixam um pedaço de vestido suspenso no ar
E um sorriso levado rodando em algum passo

Não se desculpe se o seu sorriso
Deixou todos perdidos
No palco da existência


Mayara Floss

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Passagem

Foto: Fabiano Trichez

Estou de passagem
Correndo pela vida
Meu comboio pede passagem
Aliás, meu passaporte caiu
Em alguma esquina

Sobrou um pouco de mim
Em cada canto
E minha passagem deixou rastros
Passados

Talvez um pouco do meu coração ficou
em algum desses lugares ou carreguei de passagem
o coração de alguém, em uma das minha viagens

Restou-me a passagem
Passando por esta vida
Talvez o troco, cobrador, na próxima esquina?
Mayara Floss

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Crepúsculo

Foto: Fabiano Trichez

A noite foi chegando
Engolindo todos so ruídos
Abocanhando os raios de sol
Soltando suspiros de estrelas

A noite foi chegando lenta
Manchando o céu de negro
A lua aparecia para o seu reinado
Roubando os reflexos do sol

Enquanto meus olhos
Perdiam-se na escuridão
Encontrei sua mão silenciosa...
Mayara Floss

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

“Habilidades”

Foto: Fabiano Trichez
Que habilidade o ser humano tem...
Levantar paredes, contra o frio o calor
e a luz
Cortinas para parar o luar – o pouco que ainda
entrava pelas janelas
O ser humano nem mais precisa de jardim,
Já inventou o vaso
Nem os cachorros se divertem mais
Agora o varal fica bem fica bem no alto longe
Das suas patas que, aliás, nem se sujam mais
Até o revolucionário guarda-chuva
Afasta-nos do céu
Pobres crianças “não corram”
- tem o vizinho de baixo –

Frustrados desde o princípio pela grama sintética
Da minha janela não vejo o sol.
Mayara Floss - In: Falta um poema...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Desassossego

Foto: Fabiano Trichez

Silêncio
(mas com as buzinas de fundo)
Luzes
(mas reflexo do asfalto opaco)
Leva tijolo,
Tira a rede,
Ergue parede.

Passos, passa, passo
A cobrar
Fecho as mãos
Ali, cabe um a criança

Um cobertor de jornal
Um chaveiro sem chaves
Um sorriso sem alegria
Uma pressa,

Inconstante
Presa num soluço,
Dos olhos que não vêem
Das moedas que não caem,
Do frio da calçada, da laje, do chão
Da criança parada.

Mayara Floss

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ventana de las hormiguitas

Foto: Fabiano Trichez

De la ventana
El invadir del sol
Deja el cielo como un reflejo
Abajo del parasol

La gente deja la sensación
de hormigueo
Allí, todas son coordinadas

Y el reflejar de la luz del día
Deja las sombrillas amarillas
Con cada hormiguita

Tomando su papel de operaria
En la jornada del tiempo,
Sin pensar, día después de día...

Mayara Floss

sábado, 28 de novembro de 2009

Soneto do vento

Foto: Fabiano Trichez

Senti o vento me cortando o rosto
E derrubando as folhas amareladas no chão
Cercando-me, levando-me
Buscando presença

Senti meus cabelos soltos
E a paz no meu coração
O vento levou parte do meu peso
Deixou-me leve, contra o senso físico

Senti o meu nariz vermelho
E os lábios gelados
(mas quente por dentro)

Estava parada
O vento parou
E ficou uma brisa em mim
Mayara Floss

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Fenda

Foto: Fabiano Trichez

“A vida sabe imitar melhor a arte
do que a arte sabe imitar a vida”
Monteiro Lobato

O sol rasgou o céu
Queimou-me o rosto
Deixou seus raios alcançarem
meus olhos cansados

E por falar em cansaço
Caíram as sombras
Calaram-se os fracassos
Aproximou-se a distância

Sinto como se cada parte minha
Tivesse ficado em outra peça, em outro canto,
Porque o momento agora é silêncio

O sol abriu as fendas,
Enquanto metade de mim grita
A outra cala por dentro

Mayara Floss

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Então é natal

Foto: Fabiano Trichez

Os pisca-piscas das vitrines
E as árvores americanas
Enfeitam o ambiente
(ainda creio que o papai Noel morre de calor
pelo menos nos países tropicais)

Isso já não faz tanta diferença
Desta vez, os presentes em baixo da árvore
Parecem caixas vazias
Lembra-se do natal na sua companhia?

Bom, a ponte ainda sustenta
As luzes,
Hercílio luz!
Pisca-pisca
Ainda liga a ilha ao continente,
E pisca-pisca os nosso corações
Ligados por uma data tão de mentirinha...

Mayara Floss

domingo, 22 de novembro de 2009

Reflexo

Foto: Fabiano Trichez

Quem me espreita
Nesse olhar inseguro
Que me estranha
E parece estar em cima do muro

Que olhos são esses
Perdidos e profundos

Que rugas são essas,
Pertencem a esse mundo?
Que desconfiança se estampa?
É por causa do reflexo difuso?
Estranho e obtuso.

Conheço-te
Estranho-te

E descubro,
Que a cinza do tempo
Deixou meus olhos confusos.
Mayara Floss


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Livro: Falta um poema...


Bom, depois de muito esforço está aqui um pouco do meu trabalho. Esta semana os primeiros exemplares estão à venda nas livrarias de Santa Maria (CESMA, Livraria da Mente e Sebo Café). Espero que gostem! Aproveito para agradecer novamente a todos que ajudaram a fazer desse sonho realidade. Espero também que para cada um que leia ou ouça os poemas possa ter "metamorfosear" como eu quando os escrevi.

Com carinho e felicidade,
Mayara Floss

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Meu canto

Foto: Fabiano Trichez


Preferi silenciar as palmeiras
E cantar as araucárias
Elas sim, mais do que crescerem
Conseguem abrigar os pássaros e seus ninhos

Podem suspender os galhos
Aninhando um abraço
Estender as mãos cobrindo o chão,
Abençoando
Quem busca colo no seu tronco


Neste chão, de outros primores
Desta terra, de outro céu
Neste vento gelado do sul
Da janela,
Vejo as araucárias
E do canto da floresta
Escuto uma gralha no seu canto

Este canto,
é mais meu canto
E me desculpe,
Mas não é o sábia.

Mayara Floss

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Bolha

Foto: Fabiano Trichez

Por algum momento
Suspendeu-se no ar
Prendeu o reflexo no seu entorno
E o contorno
Voou leve,
Como um carinho do vento
Carregou-a por mais alguns instantes
E como um sonho
Desfez-se.

Para o engano
De quem a criou
Embora, poder ter voado
Tenha valido mais do que
Sempre manter os pés no chão

Mayara Floss

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Sombra

Foto: Fabiano Trichez
A areia se estende
Languida por toda a praia
O mar banha cada grão
E o sol seca cada migalha
Os pés no chão
E a sombra
Plana
Estendida na areia
Mostra um pedaço do chão
que não é iluminado pelo sol
É a parte escura que deixamos para trás,
Como o mar foge da areia
Mayara Floss

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Suspeito

Foto: Fabiano Trichez


Um gato parado observando
Entre-entrando
Neste poema
Suspeitoso e miando
Parece perguntar:
Quem está se intrometendo no meu espaço?
Desculpa seu gato,
Mas seu traço
Foi pintado por um poeta
E ficará sempre na distância
Entre o pincel das palavras
e seus olhos desconfiados
Mayara Floss

sábado, 7 de novembro de 2009

Soneto da Esperança

Foto: Fabiano Trichez

Enquanto minhas mãos poderem tocar o espelho
E os meus olhos poderem encarar minha face,
Que meus braços
Ainda façam o laço de um abraço

Enquanto eu sentir a brisa cortando o meu rosto,
As cercas continuarão transparentes
E a ânsia do vento rente,
Continuará a arrepiar minha pele

Se minha respiração se tornar ofegante
E a esperança parecer escorrer pelos cantos
Ainda naquele instante, hão de ouvir o meu canto

E se o cansaço, deixar o meu peito fraco
A esperança continuara transpirando,
E um suspiro continuará longe do meu fracasso

Mayara Floss

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Embriaguez tecnológica

Foto: Fabiano Trichez

Tecno-lógica
Lógica tecnológica
A rede enlia os próprios
pescadores de mouses

Ratos
Roubôs, rôbos, roubos
Tec-tec
Para-nóia

Chips, bits, bytes
A mão caquética divide-se
em movimentos repe-ti-ti-vos
Sites

Lógica,
Analógico,
Ilógico


Gestos, restos
Arqui-vivos
deletar

Mayara Floss

domingo, 1 de novembro de 2009

Jacaré

Foto: Fabiano Trichez
Vestido colorido
Chuquinhas no cabelo
e uma curiosidade
Para ver o que vai além do papel
Curios-idade
O jacaré,
Inclinada na beira do lago
Curio-caindo
E o jacaré?
Mal-parado, meio-água
Meio-terra
Zoo-lógico
Ela vê a flo-resta
Ele sitio-ado
Mayara Floss

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A espera

Foto: Fabiano Trichez
A mancha da cor do sangue
Escorre pelo branco-leite
A língua sai para fora como se quisesse
capturar

Capturar o passáro
ou capturar a flor
As pétalas parecem asas rasgadas
Das sementes separadas

Que formaram o jardim
E que deixou esta flor sozinha
Protagonista da grama verde

A espera de uma mão para afagar-lhe
Um inseto,ou um pássaro
Ou uma câmera,
Para polinizar nossos olhos.
Mayara Floss

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Desconcerto do mundo


Des-concerto
com certo
de certo
odes com certo
certo com certo
certo desconcerto
.
Mayara Floss

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Instante

Foto: Fabiano Trichez

O vento forte parou
Repentinamente
Deixou que as folhas
caíssem no chão
Que a menina fechasse a porta
Que o cachorro chegasse a um abrigo
O tempo parou alguns instantes
O novelo de lã rolou do gato
E o padeiro colocou pães no forno.
O caminhoneiro terminou a curva

E de repente um clarão
Inundou o céu
E o temporal rompeu o silêncio

E deixou que o tempo voltasse a correr

Mayara Floss

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Chaleira

Foto: Fabiano Trichez

Se me queima os dedos
O fogo quente
Não faltam gravetos
A chama ardente

Aquece com calma
A chaleira esmaltada
Ferve com brasa

Quase um museu
Na esquina da cozinha
O fogão a lenha aninha

Passa-tempo
Tolerante
Com o clima,
Interior...

Mayara Floss

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cusco

Foto: Fabiano Trichez

Cansadito
Él cocho vacio
Y las cercas que cierran su alegría
Perezoso de la carrera de todo día
No escapó a la sombra
Prefirió justo acostarse
En la tierra vacía

Bajo el sol
Olvidado
Sin preguntas
Descansando ni ladría

Mayara Floss

domingo, 18 de outubro de 2009

Carretel

Foto: Fabiano Trichez


A linha do pescador
Escorre entre os dedos
Acostumados com o sol
As iscas distinguem o pescador
Do pescado
Mas quem será realmente fisgado
Pelo prazer do sal do mar

Hoje o tempo é nublado
E a vida escapa em um cardume
Para não ser fisgada
Pelo mar que estoura na pedra
E esparrama as lágrimas de sal
Mayara Floss

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ás de espada

Foto: Fabiano Trichez

Entre todos os reis
Todas as damas
Valetes,

Entre todas as fichas
Verdes, brancas, vermelhas

Entre todo o silêncio depois
de embaralhado
Entre todo o barulho antes
da entrega das cartas

Entre todos e todas
Sozinho
o Ás de espada
Cravado
Entre a vitória e a derrota

Em cima de todos os segredos.

Mayara Floss

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lágrima


Quem é capaz de perceber
A fúria da água
o temor dos ventos?

Entre todos os arrombos da natureza
A pior de todas as catástrofes
são os olhos mudos
Calados
Silenciados
Daqueles que sobreviveram

Eles que inundam as casas
Eles que sobrevoam os destroços
Eles que derrubam a chuva da tristeza

Esses olhos
Estes olhos

Que não sabem onde encontrar abrigo
Fecham-se em pedido, em oração,
E cegam a procura de proteção
Mayara Floss

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Vinil


A agulha fina
Risca o disco fino
Como o tempo risca
A minha pele fina

A música da minha alma
Cala com o som do disco
E o som do disco cala
Com a voz da minha alma

Despreendem-se
Os músicos e prendem-se
os meus ouvidos

O tempo, meu caro, está no Lado B do disco de vinil
Que silencia no final da faixa como a música que acaba
Na agulha fina do disco fino da minha alma
Mayara Floss
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