Foto: Fabiano Trichez
O chocalho na mão, o irmão mais velho com o violão atrás, a irmã ao lado batendo com os pés no chão, ele com chinelo de dedo marcando o ritmo. Os cabelos negros escorridos e o canto em uníssono das pequenas vozes pueris e o irmão mais novo com o cesto na mão, passando de mão em mão.
Cantam com o “instrumento colonial” o canto dos seus ancestrais em troca de moedas, de mão em mão.
A mãe, logo atrás, sentada encostada na parede de um Banco, uma criança no colo enrolada; em alguns panos, de um lado, um tapete estendido no chão com pequenos artesanatos em madeira – pulseiras, onças e tucanos (animais que há tempos não aparecem no concreto da cidade) – do outro lado cestos de palha.
Enquanto os “filhos grandes” elevavam seus cantos acima das buzinas a mãe calada escuta o choro do filho mais, mais novo e oferece o peito para recém-nascido. A criança abria e fechava a boca como um peixe, e abria e fechava as mãos em procura e encontrava o silêncio em meio a tudo e a todos.
Passavam outras mães com carrinhos de bebês, mamadeiras, leite em pó, protetor solar, fraldas descartáveis. E ali, no chão, encostada na parede do Banco, a mãe deixava o líquido branco que protege alcançar seu filho. Era um mamar de desespero e paz.
Passavam as mulheres apressadas também, reclamando. Sempre se esqueciam de tirar algum objeto de metal para entrar no banco, tinham que tirar até as pulseiras, um absurdo. Pior eram as moedas, infinitas que se abrigam no fundo da bolsa e não as deixam passar pela porta giratória, sem contar o constrangimento que é ficar trancando entre a calçada e o granito.
No entanto, poucas moedas chegavam àquelas mãos. Mas, no meio de tanta insatisfação, encostada na parede do Banco, a mãe amamentava e os pequenos continuavam mendilouvando de mão em mão.
O recém nascido pararia de mamar, cresceria, se tornaria o filho mais novo (mas não tão novo), passaria pedindo moedas, cantaria e bateria os pés, tocaria chocalho e depois violão...Pena, a parede do banco continua sendo o abismo entre o chão de granito e a calçada.
Mayara Floss